Desde que conheço o Sr. Namorado, tem algumas coisas que eu sei dele praticamente desde que conversei com ele a primeira vez e que são imutáveis.
1) ele abomina coco e manga
2) ele não curte Camaros
3) ele ama basquete
4) ele é alérgico à camarão
Já são quase seis anos de namoro, mais alguns de amizade, e pensei que já tinha tudo bem certo sobre ele nesses aspectos. Até ele resolver ir na alergista um tempo atrás.
Explico: ele já teve duas reações alérgicas – sendo uma delas levemente assustadora – na academia, quando o corpo está mais ativo, e em nenhuma delas ele consumiu camarão. Assumíamos que era alergia de poeira, que ele também tem, mas não faria muito sentido já que ele varre o chão de casa numa boa. Ele decidiu voltar para continuar o tratamento de alergia e talvez decifrar o mistério.
Foi aí que nossas convicções foram ao chão. Com os testes, a médica não apenas descartou a alergia à camarão como ainda disse com veemência que ele tem forte alergia à… coco. WTF. Dá urticária e tudo mais.

Tive um misto de incredibilidade e alegria ao mesmo tempo. Sério que você pode comer camarão?! Mas, tem certeza? Porque ele já teve uma reação alérgica à camarão que o levou ao hospital quando era pequeno. Pode uma pessoa “perder” a alergia? Essa médica é confiável? Perguntei isso tudo pra ele. Ele disse que ela foi categórica: você não tem alergia à camarão.
Bem, não sei se vocês sabem, mas camarão é minha comida favorita. Sempre foi frustrante encontrar um prato incrível com camarões e não poder compartilhar com ele. Essa notícia fez meu coraçãozinho palpitar com um mundo de possibilidades.
Mas será?! Foram muitos anos com essa convicção. Então decidimos colocar à prova – especialmente, antes de viajar para New Orleans onde 80% dos pratos é constituído de camarão, ou qualquer subproduto dele.
Pois bem. Colocamos nosso plano em prática.
Nesse sábado passado, eu fiz um risotto de camarão, coloquei em uma marmita plástica qualquer e marchamos eu, Sr. Namorado e Freddie para a porta de um hospital em Brasília para comer.
Fui o caminho todo perguntando “tem certeza?”, “ta tranquilo?”. Ele dizia que estava muito calmo, mas eu conheço a figura. Ele estava com cagaço. Mas fomos. Estacionei na frente da emergência, desliguei o carro e peguei a primeira garfada com um camarãozinho inteiro. “TEM CERTEZA?” eu perguntei uma última vez enquanto ele abria a boca, e ele respondeu “VAI LOGO”. Pronto. Uma, duas, três garfadas, todas caprichadas no camarão. Lá pela 9ª garfada, ele disse que não queria mais. Estava sentindo um fuzuê no estômago. Falei “tem queijo aqui, é a sua intolerância”. Ele respondeu “sei não”.
Esperamos. Uns 15 minutos depois, ele pigarreou. “Garganta ta coçando”. Pegou o flash do celular e ficou olhando a garganta no espelho. “Ta inflamada?”, pra mim, não estava. Ele repetiu que estava coçando. Busquei água pra ele. Freddie não entendia nada, mas estava ganhando carinho no colo do pai, então tudo bem.
Mais 15 minutos e ele diz que está enjoado. Repeti que era a intolerância. Uns minutos depois e ele diz para irmos embora, que estava tudo bem.
No caminho, paramos na farmácia para comprar algo para o enjoo. Volto pro carro e ele sai: “Talvez seja melhor tomar o anti alérgico”, e vai comprar. É o cagaço falando mais alto. Ele pergunta se as costas dele estão com placas, mas não estão. “Ta vermelho?”, “sim, mas você coçou né”, “hmmm, é”.
No caminho de volta, cruzamos com um casal saindo de um carro que eu, leiga em veículos automotivos, considero legal, mas não faço ideia de qual é. Eu digo “carro bonito” e ele responde “é um Camaro. É horrível”. Convicção número 2, check.
Mais pra frente, ele me assusta com um “AMOR!”, e eu “O QUE?” já pensando que ele está tendo um piripaque. “Acho melhor voltarmos pro hospital e esperar mais um pouco”. Ok, retornamos. Ficamos mais 20 minutos na porta da emergência. Nada acontece, além dele assistindo vídeos de basquete no Instagram. “Caso sejam as últimas imagens que eu vou ver, pelo menos é basquete”, ele diz. Convicção número 3, check.
Viram como algumas coisas lá de cima não mudam?
Passa-se um tempo e ele diz “acho que já da pra ir pra casa mesmo, ta tudo bem, só to enjoado”. Eu continuo afirmando que é a intolerância à lactose do queijo no risotto, mas ele diz que é um enjoo diferente, e que a irritação da garganta passou pelo estômago. Ele tem quase certeza que ainda tem a alergia, mesmo que em menor proporção.
“Mas, qualquer coisa, fica ligada de madrugada caso eu te cutuque pra você me trazer pro hospital antes que eu morra”, ele diz com voz tranquila. É como concluímos a noite.
Uma das razões pelas quais eu amo esse rapaz é que, no fim das contas, ele nunca perde o senso de humor.

Finalmente, uma das mais pedidas do Instagram do blog: suspiros arco-íris. Na verdade, é uma receita de suspiros mesmo, comuns, mas vou ensinar também a fazer os suspiros de arco-íris que fizeram tanto sucesso no IG.
Suspiros eram uma das coisas mais misteriosas pra mim na cozinha, acreditem se quiser. Eu tentei algumas vezes fazer, sem muito sucesso, até entender que o motivo estava na minha pressa.
Suspiros precisam de paciência e calma. São quase ensinamentos da vida: pare de ser agoniado, tenha calma, pra que viver com tanta pressa?, as melhores coisas chegam aos poucos.
Para ter suspiros perfeitos, o ideal é deixar que sequem no forno depois de desligar durante a noite. Vá dormir e coma no dia seguinte. Eles vão estar definitivamente crocantes, por fora e por dentro. Aliás, segundo meu professor francês de confeitaria, é assim que era feito nas confeitarias de Paris que ele trabalhava: as fôrmas de suspiros ficavam secando a noite toda, em cima dos fornos, enquanto eles assavam outras coisas.


Também descobri que suspiros têm muitas personalidades – assim como as pessoas que encontramos na nossa vida. No Brasil, suspiro bom é o suspiro crocante, não é? Bem, lá fora, nos EUA por exemplo, eles gostam de suspiros crocantes por fora, mas moles por dentro. Daqueles que quando mordemos, dá uma liga nos dentes. Se você curtir esse tipo, é só assar menos tempo e também não deixar secando dentro do forno durante a noite.
Faça em casa: suspiros
Bonus: suspiros arco-íris
Rende: 40 suspiros
1 clara de ovo
70g de açúcar refinado ou de confeiteiro (não é o impalpável!)
corantes em gel ou em pó, das cores que desejar
1 – Vamos fazer um merengue francês, que é o tipo de merengue sem calda de açúcar e sem aquecer a mistura. Sem calor nenhum. Pra começar, garanta que a tigela da sua batedeira está incrivelmente limpa, sem absolutamente nenhum vestígio de gordura. Uma forma de garantir isso é passar um pouco de suco de limão na tigela e limpar com um papel toalha, isso remove gorduras num piscar de olhos. Se algum traço de gordura estiver ali, a clara não vai bater perfeitamente e atingir todo o volume que ela pode atingir, podendo às vezes nem mesmo bater em neve. Além disso, prepare seu forno: o pulo do gato do suspiro é que ele não assa, ele seca. Portanto, para ter um suspiro perfeito é preciso assá-lo em um forno muito, muito ameno, por longos períodos. Eu só tive sucesso pleno assando eles a 50˚C por 1h40. É, eu sei, uma eternidade. Mas foi assim que eles não racharam, não perderam a cor e ficaram totalmente crocantes, dentro e fora. Inclusive, os melhores suspiros das minhas fornadas foram os que eu deixei secar dentro do forno de madrugada, depois de assados e com o aparelho desligado.
2 – Coloque a clara na tigela e comece a bater, na velocidade mínima a princípio. Se você tiver aquelas batedeiras que só tem uma velocidade – a “ligada”, hehehe –, comece batendo com um fouet, até que a clara quebre um pouco. Depois, pode ligar numa velocidade mais acima, mas ainda não a média. Aos poucos vamos aumentando a velocidade, para que mais e mais ar seja incorporado à clara.
3 – Quando ela estiver espumando bastante, comece a colocar o açúcar em chuva, derramando lentamente sobre a clara. A consistência vai mudar e, então, coloque na velocidade média. Deixe bater assim por uns 30 segundos.
4 – Depois de 30 segundos, ligue a batedeira na velocidade alta. Se você tiver uma KitchenAid, eu coloco na 8. Agora é bater e bater como se não houvesse amanhã, até que forme picos firmes e brilhosos. O ponto certo é quando você levantar a pá da batedeira e ele formar um pico, mas com uma ponta que cai sob si mesma no mesmo instante.
5 – Quando chegar a esse ponto, pare e adicione o corante de sua preferencia, mas necessariamente ou em gel ou em pó. Não use o líquido, pois o merengue é muito delicado e sua estabilidade pode sumir se você adicionar coisas muito líquidas a ele. Bata novamente para incorporar a cor, ou mexa com uma espátula. Eu faço os dois, só pra garantir.
6 – Coloque o merengue em um saco de confeitar com o bico de sua preferência – seja criativo! Dá pra fazer de TODOS os formatos possíveis – e faça os suspiros em uma fôrma coberta com uma folha de papel manteiga. Leve para assar em forno pré-aquecido a 50˚C por pelo menos 1h30, depois vá checando! Eles estão prontos quando desgrudarem totalmente do papel e o interior estiver sequinho (coma uns para testar hahaha!).
7 – Para os suspiros arco-íris: abra um saco de confeitar grande dentro de um copo pra te ajudar a apoiar, assim como na foto. Separe as cores do arco-íris em corante em gel, preferencialmente. Com um palito de churrasco (ou um hashi de sushi, se você tiver hahaha) para cada cor, é só melecar as laterais do saco de confeitar, fazendo um traço do bico (que já deve estar lá no fundo, encaixado) até a borda aberta. Faça uma cor de cada vez, deixando um espaço mais ou menos uniforme.
8 – Preencha o saco imediatamente com o merengue e faça seus suspiros. Os primeiros vão sair muito mais fortes do que os outros, porque a cor está pouco usada dentro do saco. Se quiser um tom mais pastel nas cores, é só continuar fazendo os suspiros que mais pra frente eles ficam menos vibrantes já que o corante começa a acabar. Asse normalmente, como indicado acima.

Dicas:
– Aqui no nosso Brasilzão, o suspiro que gostamos e estamos acostumados é o que é totalmente crocante, dentro e fora. Mas lá fora, pelo que pesquisei, o ideal para eles é um suspiro crocante por fora e com o centro ainda “melecado”. O resultado ao comer é um crocante que depois é substituído por um grude no dente. Eu gostei dessa segunda opção, então fiz dos dois. Para chegar ao resultado que vou apelidar de “gringo”, é só tirar os suspiros do forno um pouco antes.
– Uma dica que aprendi no curso de confeitaria e que mudou minha vida: você pode fazer mil merengues, um em cima do outro, sem precisar lavar a tigela daquele restinho que sobrou do anterior depois de raspas com a espátula. Só talvez fique levemente colorido de um pro outro, dependendo da cor que você colocar.
– Se você tiver um termômetro de forno, ajuda bastante!
– Se o seu forno não chega à temperaturas tão baixas quanto 50˚C, você pode ligar no mínimo possível e deixar a porta entreaberta com uma colher de pau enquanto assa os suspiros. Não é o ideal, mas funciona!
– Polvilhe coisiquinhas por cima deles, como pedacinhos de biscoito e granulados que não derretem no forno.
E você, qual seu suspiro favorito? O brasileiro ou o grudentinho?