Minha vó materna foi uma figura muito importante na minha vida. Ela ajudou minha mãe a me criar durante parte da minha infância e, basicamente, me ensinou grande parte do que eu entendo como amor em família. Minha vó era meu exemplo.
Entre as pequenas coisas que eu guardo na memória sobre ela – aquelas situações comuns vividas no dia a dia, que insistem em às vezes passar como se fossem filme em nossa mente –, eu me lembro de uma com exatidão.
Era uma tarde quente, como são todas em Nilópolis, Rio de Janeiro, e o lanche da tarde devia estar prestes a sair na casa da minha vó. Minha mãe e minha vó estavam sentadas nas cadeiras da mesa minúscula da cozinha que cabia exatas três pessoas apertadas. A cozinha ficava na parte dos fundos da casa pequena e simples que minha vó vivia. Enquanto isso, uma de minhas tias lavava parte da louça. Havia um diálogo emotivo sobre qualquer pequena coisa que faltava resolver no lugar – qualquer fato besta que nós sempre transformávamos em algo maior do que deveria. Meu primo voltava com pão francês a pedido da família.
Minha vó puxava o copo (é, café no copo de vidro mesmo) para perto de si. Tirava uma lasca do pão e molhava no líquido negro. Deixava uns pingos caírem de volta e comia. Encerra a imagem na minha mente.
No entanto, não sai esse cheiro da minha mente. A lembrança ficou armazenada no meu nariz. Toda vez que me lembro dessa cena, imediatamente sinto o cheiro de pão molhado no café quente. Um cheiro singular, único pra mim, e que não consigo não associar imediatamente com a imagem da minha vózinha.
Um amigo, quando lhe contei que gostava de pão molhado no café, achou um pouco nojentinho. E eu nunca tinha parado para avaliar de que maneiras esse hábito poderia ser estranho, porque pra mim sempre foi algo muito, muito normal. Afinal, minha vó fazia. Depois do comentário dele, eu parei para pensar que, realmente, não faz muito sentido comer pão molhado no café.
Mas a nossa memória afetiva é mais forte do que a lógica, em alguns momentos. Em tempos de dieta, eu evito pão e café, só periodicamente. Só que sempre que tenho essa imagem, e esse cheiro no nariz, eu fico com vontade de correr pra casa da mamãe atrás de pão francês e café quente. Sei que por lá sempre tem. Lá tem um pouquinho da minha vó, na minha mãe.
Cupcakes de torta de Bis
Rende: 14 cupcakes
Receita dos confins da internet, mais de 10 anos atrás. Infelizmente não acho mais o autor, pra poder dar um beijo forte nele.
1ª camada
1 lata ou caixinha de leite condensado
285ml de leite (ou 1 medida da lata de leite condensado)
3 gemas
1 colher de chá de extrato de baunilha2ª camada
1 xícara (237ml) de leite
3/4 xícara de chocolate em pó (ou 1/2 xícara de cacau + 6 colheres de sopa (70g) de açúcar)
Bis, muito bis3ª camada
3 claras
4 colheres de sopa de açúcar
1 caixa de creme de leite
Mais Bis1 – Faça cada camada de uma vez. Deixe a primeira e a segunda prontas para montar os cupcakes, e só depois de montados prepare a terceira, para não perder o ar incorporado nela.
2 – Comece batendo todos os ingredientes, menos a baunilha, da primeira camada no liquidificador, ou em uma batedeira. Leve a mistura ao fogo em uma panela, mexendo como se fosse um brigadeiro até engrossar. O ponto certo é quando a mistura cobre a espátula. Retire do fogo e acrescente a baunilha, misturando bem. Reserve.
3 – Para a segunda camada, basta misturar tudo em uma panela e também levar ao fogo até ferver. Espere ela esfriar antes de montar.
4 – Para montar, coloque as forminhas de papel na fôrma de metal. Despeje uma ou duas colheres de sopa do creme da primeira camada em cada forminha. Dê umas batidinhas com a fôrma na bancada para que o creme se nivele. Depois, cubra com uma colher de sopa da calda de chocolate da segunda camada, garantindo que ela está cobrindo toda a superfície do creme.
5 – Quebre vários Bis em cima dessa camada. Pode caprichar, seja feliz. Bis é vida.
6 – Leve a fôrma para a geladeira enquanto você prepara a terceira camada: bata as claras com o açúcar até o ponto de neve. Depois, acrescente o creme de leite e misture com uma espátula, fazendo movimentos envolventes e tomando cuidado para não desinflar tudo.
7 – Quando estiver bem misturado, retire a fôrma da geladeira e cubra cada cupcake com uma ou duas colheres de sopa da terceira camada. Nivele como puder e decore com mais Bis quebradinho. Leve para gelar no congelador por pelo menos 2h, para que tudo fique bem firme. Depois coma uns 4 ou 5 seguidos, como eu fiz.
Essa receita é minha xodó de caderninhos de receitas. Eu a encontrei nos confins da internet, há muitos anos atrás, em um blog que tinha muitos gifs animados e coloridos. Lembram desses? Tentei localizá-lo novamente mas não encontrei. Embora tenha achado receitas semelhantes em outros, eu não coloquei o link para elas porque não eram a original maravilhosa que eu encontrei por aí.
Que bom que anotei essa receita no papel. Ela é a favorita do meu melhor amigo, então a guardo para fazer em ocasiões especiais que o envolvam.
Como podem ver, ela não tem muita regra – coloque uma ou duas colheres de sopa, ou mais, ou menos, você que manda! – e é claro que ela era de torta de travessa. Mas eu tomei a liberdade poética de testar em uma fôrma de cupcake, com os papéis, e deu muito certo! Ou você também pode fazer em forminhas de silicone, também testei nessas e ficou show.
Claro que esse cupcake tem que ficar no congelador antes de servir. E assim que servido, o ideal é que seja consumido em no máximo 15 minutos, porque os cremes começam a derreter e, pessoalmente, a graça dele é estar bem geladinho entre camadas. Tenha foco na comida e coma rápido (para poder comer mais)!
O que vocês têm como memória afetiva e alimentícia?
Bom diaaa Ju sua linda!!!! Não agüentava mais esperar por receitas no blog haha. Com certeza vou fazer essa o mais rápido possível.
Eu tenho uma memória alimentícia muito gostosa,quando eu tinha uns 9 anos,minha mãe comprava uma espécie de “salgadinho de churros” eram mini churros muito gostosos dentro do pacotinho. Hoje em dia eu não acho mais,porém só de pensar,já sinto o gosto.
Beijos linda,obrigada pelo post.
Angela, não sei se é o mesmo, mas aqui em Brasília é bem comum um mini churros nas festinhas… mas são feitos em máquina, sabe, pra revender. Não vem em saquinho no mercado não.
Tenho exatamente a mesma recordação … Lendo seu texto, cheguei a chorar sentindo o mesmo cheirinho, do café no copo de vidro, molhando o pão francês …
Parabéns pelo belíssimo texto, que me levou de volta à minha infância!
Bjo
Otacilia, que bom que gostou e te comoveu… aqui é difícil segurar lágrimas também quando lembro da minha vózinha. :)
Então…
A memória olfativa “fica” no nosso cérebro primitivo, também chamado de reptiliano, por ser o mais básico.
http://www.cerebromente.org.br/n05/mente/limbic.htm
E por mais que o tempo passe, essa memória sempre será a mais pungente e forte.
A que traz lágrimas nos olhos, sabe?
É bom ter lembranças como essa.
Beijos!
Lia, está tudo explicado. Obrigada pela informação! Gosto muito de ler essas partes científicas da nossa existência :)
Juliana, eu também via adultos da minha família molharem o pão no café; eu também fazia isso! Nunca mais, depois que cresci, vi coisa igual e nem me lembrava mais! Sabe que agora, pensando bem, também achei meio nojento? Essa história me fez sentir saudade da minha tia, toda vez que lanchava na casa dela me engasgava com café, de tanto que ria. Também comeria um cinco desses, só pra passar a nostalgia que se instalou em mim.
Denyse, é isso, hoje eu penso que parece nojentinho, mas, sei lá, ta na memória que é normal, então é normal. Vó que ensinou. :)
Não se aflita!!
Ja passei dos 60 e aguardo essas mesmas imagens!
Ainda hoje, de quando em vez, me pego molhando o pãozinho quentinho no café também. rsrs
Adorei esta receita
Olá, lindo seu cupcake. Na foto aparece uma 2a. Camada quase da espessura da primeira, que é praticamente um brigadeiro. Então acho que não entendi direito essa 2a. Ferve o leite com o chocolate em pó e faz uma calda. Molha em cima da primeira e pica o bis em cima? Entao esse marrom q a gente vê na sua foto parecendo um brigadeiro preto é só bis picado? Desculpe pela dúvida acho que meio boba. Grata.
Valeria, são três camadas e a do meio é a calda de chocolate. Ela não fica como brigadeiro, ela fica mais dura que um brigadeiro. Você coloca ela e pica o bis por cima, sim, forma uma camada de chocolate com o bis, bem gostosa. Beijos!
Eita, que receita maravilhosa! Tô só acumulando no meu caderninho de “receitas para fazer” tantas opções lindas. <3
Nossa Jú…
Parece maravilhoso, e aliás como tudo no seu blog!
Será que vc poderia me ensinar a tirar essas fotos,
na qual vc destaca o cupcake principal e embaça o fundo
do cenário? São fotos lindas! Me ensina, por favor?
É algum app?
Beijos…
Fran, isso é a lente que eu uso. Uma lente com abertura maior (ou seja, que chegue até 1.4 por exemplo), causa esse efeito de desfocado no fundo. Eu planejo fazer um post sobre meu material fotográfico e, quem sabe, falar um pouco sobre fotografia de comida aqui também. :)
Oi prima Ju, suas lembranças são parecidas com as minhas e em especial nesta época são as que mais me marcam.
Fique emocionada quando li este texto rico com cheirinho de saudades. Nesta semana olhando pela minha janela me deparei com a brecha da Janela do quarto da casa de vovó e mesmo que não estivesse mais da mesma forma minha memória me levou naquele lugar e meu coração viajou por lembranças gostosas tais como ela nos ensinava com olhar e atitudes que eram de sua caracteristica natural de ser…Seus paninhos bordados por suas próprias mãos com todo cuidado em lavar, engomar e passar.
São estas lembranças que a cada dia nos fazem felizes.
Um grande beijo prima.
Sdds.
Prima, a vovó foi um anjinho que tivemos durante muito tempo aqui na Terra e que agora cuida de nós em outros planos. Seja nas memórias ou onde quer que esteja, dependendo das nossas crenças. As lembranças ficam aqui pra que a gente tenha em mente tudo que ela nos ensinou, sempre. Saudades não faltam. Mas vamos tomar aquele café com pão que ela gostava, pra matar a saudade :)
Bom dia Ju !!! Casa de vó é a recordação mais gostosa que se tem!
Flor me tire uma duvida,o segundo creme não coloca nada pra engrossar ele?
Beijo
Nalige, não! Ele engrossa só um pouco, e não é pra ficar grosso mesmo não… ele forma uam camada mais dura do que cremosa :)
Ué, eu não vejo problemas em molhar o pão no café. Eu adoro pão francês com manteiga com sal molhado no café com leite quentinho. Tão bom :3
Michelle, apoiada! :D
Eu tenho algumas boas memórias! Uma delas é pão caseiro….ainda mais quando minha mãe fazia com ervas! O cheiro era maravilhoso e perfumava a casa toda!
Juliana, para mim pão molhado no café combina e eu adoro. Há quem ache deselegante. Eu acho tudo de bom! Quanto à memória afetiva, olfativa e alimentícia, nada supera o cheiro e o sabor do pão e da rosca doce que a minha avó fazia e que comíamos ainda quente, passando manteiga Aviação. Nas férias escolares eu ia para Marília e à tarde nos reuníamos para tomar café. Minha avó, as duas filhas e os três netos ainda crianças, juntos, à mesa da cozinha e saboreando essas delícias tão singelas. O tempo passou, os netos hoje estão na faixa dos 48-50 anos, minha avó já sei foi e não nos reunimos mais. Herdei o gosto de fazer pão e acho que faço relativamente bem, mas nada que se compare aos pães da minha avó Rosa. Guardo com carinho essas lembranças.
Adriana, todas essas lembranças ficam pra sempre na nossa memória, né? Acho gostoso relembrar. Uma sensação boa. :)
[…] 02. Cupcakes de Torta de Bis […]
Oii Juliana, tenho uma pergunta sobre essa receita… Vou fazer, e depois vou transportar e vai ficar umas 3-4 horas fora da geladeira. Será que tem problema?
Obrigada, é muito mais sucesso para você :)
Oii Juliana, tenho uma pergunta sobre essa receita… Vou fazer, e depois vou transportar e vai ficar umas 3-4 horas fora da geladeira. Será que tem problema?
Obrigada, é muito mais sucesso para você :
Francis, esse cupcake não dura nem uns 30 minutos fora da geladeira, infelizmente. Ele é bem delicado, tem que ser servido imediatamente :)
Lendo esse post bateu o quanto a minha vó materna ira fazer falta para mim quando ela partir, minha avó paterna eu não tenho muito contato mas com a materna com toda certeza eu tenho e muito, eu nunca tive coragem de literalmente conversar com minha avó tipo falar do dia a dia mas sinceramente eu nem quero falar do dia a dia eu já convivo com ele querendo ou não enfim.
A receita aparenta ser DELICIOSA sério bateu uma vontade de comer parece que eu sinto a cremosidade dentro da minha boca.
Luana, vá e fale com sua avó. Não precisa falar do dia a dia, não precisa desabafar, pode falar até mesmo da panela no fogo cozinhando o arroz. Mas fale. No futuro vai fazer falta cada segundo que vc não teve com ela. Aproveite!!